domingo, março 25, 2007

Kiruna – Dream Trip

Depois de um longo período de hibernação (e após várias reclamações!), o meu blog acorda! Siiim já é primavera, os passarinhos cantam, o verde começa a surgir um pouco por toda a parte, o sol brilha mais…. E continua um frio de rachar! Mas não é de flores e primavera que quero falar, mas sim de neve, gelo, frio… pode não parecer apelativo, mas visitar a Kiruna é algo único!

Kiruna é uma cidadezinha perdida no meio do nada, 150 km a norte do círculo polar Ártico. Porque é que todos os estudantes internacionais lá vão? Boa pergunta… todos os suecos com quem falei disseram que nunca lá tinham ido… mas parece quase uma tradição para quem faz Erasmus em Uppsala!

16 intermináveis horas de comboio para lá chegar… é preciso muita imaginação para fazer o tempo passar. Poker, música, livros, conversa, anedotas, passeios pelas várias carruagens, umas paragens para café no bar do comboio, tudo serve. Devo dizer que o grupo não era propriamente o mais divertido, mas foi o que surgiu: Theresa, da Áustria, Christian, da Alemanha, Rinse, da Holanda, Mads, da Dinamarca e eu e a Ana (que teve a brilhante ideia de ir de avião!).

No primeiro dia demos uma volta pela cidade e ficámos a saber que foi fundada em 1900 por um geólogo visionário chamado Hjalmar Lundbohm, primeiro director da mina LKAB. Actualmente, esta mina de ferro é a maior mina subterrânea do mundo, com 400km de estradas no interior e cerca de 9000 trabalhadores! É uma verdadeira cidade subterrânea, com restaurante e tudo no interior e talvez o único sítio indoor na Suécia onde se pode fumar :P

A visita guiada teve ainda direito a café e bolinhos no final, mas infelizmente o senhor que cultiva cogumelos japoneses não estava naquele dia, por isso não pudemos apreciar a sua magnífica e estranha cultura.

De volta à superfície… visitámos a igreja local, oferecida pelo fundador da mina à população, construída unicamente de madeira. A estrutura assemelha-se a uma tenda Sami, o povo nómada local que viu as suas terras invadidas por homens-brancos de estranhos costumes. Provavelmente a arquitectura escolhida foi uma tentativa de calar algumas bocas. Ainda hoje existem alguns conflitos entre Samis e suecos, pois apesar de já não serem nómadas, os Samis reclamam para si as terras da Lapónia.

Ficámos alojados nesta cabaninha no meio da neve e das árvores, 15 km a sul da Kiruna. Gelado lá fora, quentinho lá dentro. Claro que os 2kg de massa e o belo Periquita tinto também ajudaram :)

Paisagens de cortar a respiração, um lago completamente congelado ideal para andar de snowmobile! Foi o que fizemos no dia seguinte, de manhã pela fresquinha :)

Poucos quilómetros depois da partida, consegui a proeza de enterrar a mota num espectacular snow-dive! Ehehe, lindo!!
23km depois chegámos ao Ice Hotel, o hotel em que tudo é de gelo! Todos os anos é construído um novo hotel, que acaba por derreter... por isso o Ice Hotel apenas toma de empréstimo o gelo, que depois volta à sua origem. Uma verdadeira obra de arte!
Os quartos...
a igreja (na qual se casam 150 casais por ano) e as várias salas...

e o magnífico bar da Absolut (patrocinadora oficial do hotel). Infelizmente estava fechado, por isso provavelmente terei que ir ao de Estocolmo…

No caminho de regresso conduzimos sozinhos em freestyle! O melhor de toda a viagem :)
A seguir o nosso guia levou-nos até à sala de refeições… ao ar livre, pois está claro!

E deliciámo-nos com carne de rena, acompanhada de batatas e doce de Lingonberry (não sei se existe um nome em português para este fruto vermelho…). Apesar de a ideia de comer carne de rena não ser muito simpática, a carne é óptima! Mas foi uma experiência única, porque não é possível ir ao talho e comprar carne de rena, as renas são propriedade dos Samis e só eles as podem caçar e vender! É verdade!

Depois da passeata, casa outra vez. Mas o pessoal não estava numa de festa, por isso eu e a Ana tivemos que mostrar como a malta portuguesa sabe aproveitar o tempo na Suécia… Um pôr-do-sol lindo, um silêncio, uma paz… Que tal uns gritos à beira lago para libertar a tensão? Inspirar, preparar, gritar! 'Aaaaaaaaaa! We loooooove Kirunaaaaa!!' Ehehe, excelente! Foi um momento único, que tenho a certeza que vamos lembrar sempre ;) Para terminar, Björk - a banda sonora perfeita para este sítio de sonho.

E este snow angel fui eu que fiz :) tinha que deixar a minha marca na Kiruna!

À noite o pessoal foi todo para a sauna, a maior que já vi na minha vida…
Claro que toda a gente rebolou na neve, mas só as meninas lusas tiveram coragem para intercalar o calor da sauna com um banhinho de lago!! Sim, esta portinhola dentro da sauna dava directamente para o lago. Woo-hoo, loucura!
De regresso a casa (já só eu e a Ana, as resistentes) até tivemos um encontro imediato com um urso no caminho, mas quando nos aproximámos constatámos que o bicho não se mexia e era mais tipo… um contentor do lixo… enfim, é o que dá beber água do lago quando se está em estado de desidratação…

No dia seguinte foi dia de descansar, porque tínhamos pela frente outras 16 horas de comboio. A Ana ainda se aventurou no dogsled :) e eu confesso que fiquei com pena de não ter ido também… Por ver ficaram também as northern lights (Aurora Borealis)… o que quer dizer que já tenho pelo menos dois motivos para voltar à Kiruna um dia. E também para rever o nosso guia, o Liefe, o sueco menos sueco que já conheci: caloroso, super irónico, infractor das regras (!!), daquelas pessoas com quem se empatiza de imediato.
E como ele nos disse à despedida: “Have a good life!”